Na parte argumentativa do texto, defende-se o ponto de
vista apresentado (preferencialmente) na introdução. Para fazer isso com
eficiência, é preciso utilizar dados corretos e ser coerente. A maior parte das
falhas na argumentação decorre de raciocínio errado ou de informações que não
condizem com a realidade.
Entre os problemas comuns, está o uso de totalidades indeterminadas. Esse uso consiste
em atribuir certos comportamentos ou características a toda uma categoria de
pessoas, o que leva ao pecado da generalização. É o que se vê nesta passagem de
uma redação sobre o novo papel da mulher na sociedade:
“As mulheres modernas, influenciadas pelos ideais
feministas, não consideram o casamento como o maior objetivo de realização
pessoal, mas a conquista da independência financeira. Esse fato é determinante
nas relações amorosas.”
Por mais que haja mulheres que não tenham o casamento
como objetivo supremo, sempre existem as exceções (que por sinal ainda são
muitas). Generalizar termina constituindo uma inverdade. Tenha em mente que o
primeiro dever de quem escreve é ser verdadeiro.
Outro problema comum é o uso inadequado de termos referentes a determinados ramos do saber
(filosofia, psicologia, sociologia etc.).
Vocábulos como “livre-arbítrio”, “sofisma”, “autoestima” têm um sentido
preciso. Empregá-los indevidamente gera confusão conceitual e fragiliza o que o
redator supunha ser um trunfo (a palavra não deve entrar no texto apenas por
ser bonita, dar prestígio; ela tem que significar).
Um de nossos alunos iniciou uma redação sobre
autoestima da seguinte forma: “A
autoestima é a análise subjetiva de uma pessoa sobre si mesma . Muitas vezes
ela acaba sendo erroneamente relacionada
ao sucesso pessoal .” A autoestima não se confunde com a autoavaliação.
Não é uma análise, mas um sentimento. Aplica-se a quem tem respeito ou amor por
si próprio.
Compromete ainda a força argumentativa do texto a falta de conexão entre as ideias. Um
exemplo é esta passagem de uma redação sobre a influência da mídia nas escolhas
pessoais:
“A personalidade de cada pessoa caracteriza quem ela
realmente é. Devido a isso é comum ver indivíduos que perdem o controle sobre
seu modo de ser e acabam seguindo um modelo imposto pela mídia.”
No primeiro período o aluno define personalidade. No
segundo, afirma que essa marca pessoal determina que os indivíduos percam o
controle sobre si mesmos e se deixem levar pela mídia! Aparentemente, é o
contrário. Não está clara e relação entre uma coisa e outra.
Muitas vezes a falta de nexo
decorre de uma estruturação insuficiente, que deixa implícita parte do que se
quer dizer. Por exemplo: “É natural que os jovens busquem o espaço privado dos
shoppings, pois além de ser um local valorizado por nossa sociedade centrada no
consumo, as próprias cidades brasileiras sofrem com a falta de
infra-estrutura.”
De início não se percebe a relação
entre a falta de infraestrutura das cidades e fato de os jovens buscaram os
shoppings para se divertir. Há contudo um leve nexo, que não foi explicitado. O
trabalho de refeitura ajudou a preencher a lacuna:
“É natural que esses garotos busquem o espaço privado
dos shoppings. Além de serem locais valorizados por nossa sociedade, centrada
no consumo, os shoppings constituem uma alternativa para as cidades
brasileiras, que sofrem com a falta de infraestrutura.”
Outra falha comum no domínio argumentativo são as falsas afirmações. Nem sempre os
exemplos ou as ilustrações apresentados batem com a realidade. Por
simplificação ou mesmo distorção dos fatos, o aluno informa o que não se
constata no dia a dia. Interpreta os dados do real por uma ótica às vezes
maniqueísta, às vezes muito redutora. Seguem dois exemplos com os respectivos
comentários:
-- “As relações humanas são condicionadas pelo poder.
Famílias ricas evitam o contato com os pobres, e até se incomodam com a
ascensão financeira das classes C e D.”
É verdade que o poder determina em grande parte as
relações humanas, mas não se pode dizer que as famílias ricas evitam o contato
com os pobres sem especificar em que circunstâncias ocorre tal segregação. Nem
todo rico despreza a pobreza.
--
“Ao longo da história da humanidade o papel e a importância do idoso mudou
drasticamente. No período clássico eles eram os lideres e sábios, após a Revolução
Industrial se tornaram objetos que podem ser descartados.”
Ainda há muito preconceito contra os velhos, mas
também se observa hoje uma valorização das pessoas da terceira idade. Prova
disto são as medidas tomadas pelo governo para facilitar-lhes a locomoção nas
ruas, o acesso aos transportes coletivos, a prioridade em filas de bancos,
cinemas etc. Sendo assim, é inexato dizer que as pessoas nessa faixa de idade
são descartadas.
A argumentação é por excelência o domínio em que
pensamento e linguagem devem se ajustar. Escrever bem é pensar bem, e para isso
é preciso conhecer a língua. Esse conhecimento tem, por si, um efeito
persuasivo. Argumentos mal formulados pedem a força; mais comprometem do que
valorizam o texto.
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