A formação educacional de
surdos representa um desafio para uma sociedade alienada e segregacionista como
a brasileira.
O desconhecimento da língua brasileira de sinais – LIBRAS – e a visão
inferiorizante que se tem dos surdos podem acabar por excluí-los de processos
educacionais e culturais e mantê-los marginalizados em relação ao mundo atual.
Portanto, esses desafios devem ser superados de
imediato para que uma sociedade integrada seja alcançada.
Em primeiro lugar, a pouca abrangência da língua de sinais entre os mais
diversos setores da sociedade faz dela um ambiente inóspito para os deficientes
auditivos. Pesquisas corroboradas por universidades brasileiras e
estrangeiras, como a Unicamp e a Universidade de Harvard, atentam para a importância
da linguagem como principal porta para a convivência social,
permitindo uma multiplicidade de interações interpessoais, como as de educação,
cultura, trabalho e lazer. Assim, quando a
sociedade se fecha à comunicação por sinais, justificada pela ignorância,
aqueles que dependem dessa linguagem têm dificuldades de obter educação de
qualidade e ficam, muitas vezes, à margem das demais interações sociais.
Além disso, a maioria das escolas brasileiras não incluem os surdos,
assim como os demais portadores de necessidades especiais, em seus programas,
estimulando a diferença e o preconceito. Por mais que a legislação brasileira
garanta o ensino inclusivo, a maioria das escolas brasileiras não possuem
estrutura para atender aos deficientes auditivos, principalmente por conta da
falta de profissionais qualificados. A pouca inclusão
dos jovens deficientes e não-deficientes valoriza
a diferença entre eles, gerando discriminação e uma sociedade dividida. O renomado geógrafo Milton Santos dizia que uma sociedade
alienada é aquela que enxerga o que separa, mas não o que une os seus
membros, algo que se evidencia na exclusão de surdos em todos os níveis de
ensino.
Dessarte, visando a uma sociedade mais
justa, é mister superar os desafios da educação de
deficientes auditivos. Para que o surdo se
integre aos diversos meios sociais, como o educacional, o MEC deve fazer uma
reforma curricular, que contemple o ensino de LIBRAS como obrigatório em
todas as escolas, através de consultas populares na internet para determinação
da carga horária. Ademais, com o intuito de tornar as escolas inclusivas, o MEC e o Ministério do
Trabalho devem prover as escolas de
profissionais capacitados, que possam lidar com alunos surdos através de programas de capacitação profissional
oferecidos pelo SESI e o SENAC. Dessa forma, o ensino tornará a
sociedade brasileira mais unida. (MCDC)
Comentários
1) O candidato inicia o primeiro parágrafo
com uma generalização, considerando a sociedade, como um todo, alienada e
segregacionista (devem-se evitar esses juízos genéricos e superficiais). A
despeito disso, ele se sai bem na Introdução. Sua tese é a de que é preciso superar
os desafios que impedem a integração dos surdos, cuja exclusão decorre, basicamente,
do desconhecimento da língua de sinais e da visão inferiorizante que a
sociedade tem deles.
2) Apresentada a tese, ou ponto de vista, o
estudante inicia a partir do segundo parágrafo a argumentação. Utiliza com
propriedade o operador argumentativo “Em primeiro lugar”, que antecipa uma
sequência complementada, no terceiro parágrafo, por “Além disso”. O uso desses
operadores concorre para estabelecer a progressão textual.
3) O candidato
utiliza no segundo parágrafo argumentos causais e de autoridade. Ele justifica
a sua tese com a afirmação de que a pouca a abrangência da língua de sinais
torna a sociedade inóspita (hostil) para os deficientes auditivos. Respalda
essa ideia na autoridade de duas instituições de peso -- a Unicamp e a
Universidade de Harvard –, que por meio de pesquisas confirmam a importância da
linguagem como o principal meio para a convivência e as interações que essa
convivência comporta em vários âmbitos (educação, trabalho, cultura, lazer). O
uso do operador “Assim”, de caráter dedutivo, concorre para a eficiência lógica
do raciocínio e dá ao parágrafo o aspecto de um texto autônomo (começo, meio e
fim).
4) A ressalva que se deve fazer ao segundo
parágrafo diz respeito à precisão vocabular. As pesquisas não são “corroboradas”,
mas “empreendidas”, “levadas a efeito”; e não “atentam”, mas “demonstram”, “comprovam”
a importância da linguagem como principal meio para a convivência social.
5) No terceiro parágrafo, ainda
argumentativo, o tópico é “as escolas brasileiras”, que não concorrem para a inclusão
dos surdos (a despeito do que estabelece a legislação) por não possuírem estrutura
nem profissionais qualificados. O aluno utiliza um novo argumento de autoridade,
representado por uma citação indireta do geógrafo Milton Santos, para o qual uma
das marcas de alienação social é a dificuldade de atentar para o que une os
seus membros; segundo o candidato, o Brasil se enquadra nessa situação quanto
ao tratamento dado aos deficientes auditivos.
6) Novamente a ressalva que se deve fazer dia
respeito ao rigor vocabular. Na versão do aluno, “A pouca inclusão dos jovens
deficientes e não-deficientes valoriza a diferença entre eles, gerando
discriminação e uma sociedade dividida.” Esse período ganha em exatidão caso se
substitua inclusão por “integração” e “valoriza” por acentua.
7) Na Conclusão, o candidato retoma a ideia expressa
na tese (sobre a necessidade de superar os desafios para a integração social
dos surdos) e parte para a proposta de intervenção. Ela está articulada com o que
foi argumentado, ou seja, atende à exigência de “manter um vínculo direto com a
tese desenvolvida no texto e demonstrar coerência com os argumentos utilizados”
(Guia do Participante, p. 24), e apresenta os componentes necessários (agente,
ação, meio, efeito). O aluno desdobra-a em dois níveis -- o pedagógico e o
profissional.
8) No nível pedagógico, ele cobra do MEC
(agente) uma reforma curricular (ação) que torne o ensino de LIBRAS obrigatório
nas escolas a fim de, com isso, integrar os surdos aos diversos meios sociais
(efeito). No nível profissional, o candidato associa a ação do MEC à do Ministério
do Trabalho (agentes), que devem prover as escolas de profissionais capacitados
(ação), que possam lidar com alunos surdos através de programas de capacitação
profissional (meio) com o intuito de torná-las inclusivas (efeito).
O que determina a nota máxima é basicamente a capacidade de
compreender o tema, lendo bem os textos motivadores; ter uma visão crítica e
pessoal do problema discutido; argumentar com lógica e clareza; apresentar
propostas viáveis para, se não resolvê-lo, conduzir a uma possível resolução. O
candidato atendeu a esses requisitos e fez jus à nota que obteve.
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