No dia 18 de janeiro, o Inep
divulgou as notas de redação do Enem 2016. Alguns dados merecem atenção:
-- apenas 77 estudantes obtiveram nota 1000;
-- a média da pontuação ficou entre 501 e 600 pontos;
-- 291.806 textos foram anulados ou obtiveram nota
zero -- seja por fuga ao tema (46.974), seja por cópia dos textos motivadores
(8.325), seja ainda por agressão aos direitos humanos (4.798).
O número de notas máximas impressiona,
pois é bem inferior ao de anos anteriores. Indica um decréscimo na formação e sobretudo
no interesse por parte dos alunos. O perfil do aluno nota 1000 é conhecido;
trata-se de alguém que, além de ler muito e de forma diversificada (jornais,
revistas, ensaio, ficção), pratica sistematicamente a produção de textos. Alguns
chegam a escrever duas ou três redações por semana. O baixo número dos que obtiveram
1000 sugere que a motivação para a leitura e a escrita diminuiu.
Se redução da nota máxima não está
ligada ao desinteresse ou mesmo ao despreparo do aluno, é o caso de averiguar o
que a determinou. Terá sido a escola? Ou as bancas, que foram mais rigorosas
quanto aos critérios de atribuição de notas às cinco competências? São perguntas
que se espera responder quando os espelhos de correção forem divulgados.
Em sintonia com o decréscimo
das notas altas, a média também baixou. Pode-se pensar que isso ocorreu devido
à dificuldade dos temas, mas não é esse o caso. Religião e raça são normalmente
objeto de discussão na escola e mesmo fora dela. Sempre se tem um posicionamento
sobre tais assuntos, que permeiam a convivência numa sociedade heterogênea como
a nossa. O que certamente faltou foi leitura e informação. Falhas no emprego do
registro formal, inclusive com transgressões à gramática, também devem ter
concorrido para reduzir a média.
O que chama mesmo a atenção é
o número de redações que tiveram zero. Os motivos para isso (fuga ao tema,
cópia dos textos motivadores e desrespeito aos direito humanos) refletem tanto
o despreparo do aluno, quanto a má orientação do professor.
A fuga ao tema é comum nos
candidatos que não compreendem os textos motivadores e se mostram incapazes de
extrair deles parâmetros que sirvam de base ao ponto de vista e à argumentação.
Nesse caso pode ocorrer um total alheamento do que a banca pede. Esse
alheamento (a tal fuga) se distingue do afastamento, que reflete a incapacidade
de o aluno manter a unidade temática e preservar a linha expositiva do texto. O
afastamento não leva ao zero, ou seja, não retira o aluno do exame; determina
uma penalização proporcional (que comporta, sem dúvida, algum nível de subjetividade;
como determinar “quanto” o aluno se afastou e lhe atribuir uma nota compatível
com isso?).
O aproveitamento das ideias dos
textos motivadores é legítimo e mesmo recomendável; pode e deve ser feito,
desde que com palavras do aluno e com um acréscimo que represente a sua contribuição
pessoal. Limitar-se ao que dizem esses textos, mesmo mudando as palavras, é cometer
plágio.
O desrespeito aos direitos humanos
pode também ser fruto de uma orientação insuficiente. O professor tem o dever
de alertar o aluno sobre os riscos de ir de encontro a valores fundamentais
como o respeito à vida e à igualdade. Deve também preveni-lo sobre o perigo de manifestar
preconceito contra as minorias, o que seria uma forma de agredir os direitos humanos.
A rejeição à intolerância apareceu nos temas presentes nas duas versões do Enem
2016; era imperdoável que, ao desenvolvê-los, o aluno praticasse aquilo que as
bancas pediam para ele evitar.