Um de nossos alunos escreveu numa
redação: “A consciência dos diretos e dos deveres ,
presente nos países desenvolvidos ,
caracterizam a verdadeira cidadania .” Há nessa passagem uma falha de
concordância: o núcleo do sujeito (consciência) está no singular, e o verbo se
encontra no plural (já a flexão do adjetivo o estudante acertou: escreveu “presente”,
em vez de “presentes”).
Quando pedi ao aluno que corrigisse o
erro, dele ouvi que eu estava sendo muito severo. Motivo: na última versão do
Enem, problemas de concordância não tinham impedido que alguns candidatos obtivessem
a nota máxima...
Expliquei-lhe que a orientação agora é
outra. As bancas vão ficar mais atentas ao que determina a Competência 1, que
trata da norma culta. E sobretudo vão levar em conta o que está no guia “A
redação no Enem 2012”, publicado pelo Inep para orientar os participantes: “Desvios
mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem o aluno da
pontuação mais alta.” (p. 13). Há desvios graves “quando o sujeito aparece
depois do verbo ou muito distante dele” (situação em que mais ou menos se encaixa
a frase do aluno).
Não fazer a concordância do verbo quando o sujeito
aparece depois é uma tendência do português falado que também se verifica nos
textos escritos. Exemplos: “Aconteceu
vários acidentes antes”, “Começou os
festejos juninos”, “Existia vários
tipos de moléstias” etc. A norma culta determina que se escreva “aconteceram”, “começaram”,
“existiam”.
Vale a pena observar, a propósito, o que
ocorre com o verbo “haver” quando tem o sentido de “existir”. O fato de considerá-lo
intransitivo e pessoal, como os verbos acima, leva o falante ou escrevente a fazê-lo
“concordar” com o termo seguinte (gramaticalmente, um objeto direto). Por
exemplo: “Haviam vários tipos de
moléculas”. Esse tipo de erro aparece numa das redações que receberam a nota
máxima no Enem 2012; o aluno escreveu: “É fundamental que hajam debates”.
Deve-se evitar a flexão de “haver” nesses
casos. O que a justifica não é a observância a um preceito gramatical, mas a
hipercorreção, ou seja, a tendência a corrigir o que se supõe errado.